A hora da estrela, Clarice Linspector.

É o segundo livro do tema "prêmio Jabuti" e vigésimo sétimo do ano do Desafio Literário 2012. A edição é da Rocco, 1998. Peguei nas estantes do Leitura sem Fronteiras!

Tava difícil conseguir o livro que eu realmente queria ler pra esse tema, "O filho eterno" do Cristóvão Tezza. Eu deveria ter comprado o livro no começo do ano, deveria ter seguido meus instintos. Porque eu nunca vou gostar de Clarice. Não adianta.

Tava eu lá, na pensão, em Palmas, não do Tocantins, aqui do Paraná mesmo, depois de um dia cheio de trabalho para o IBGE, coleta da pesquisa PNAD nos confins das matas de araucárias. E aí eu resolvo ler de uma vez por todas. Esse livro. Fui pulando toda a divagação chatérrima do narrador, que não me interessava coisa nenhuma e tentei pegar só a história mesmo. Então foi rápido, quase indolor.

Conheço a história, vi o filme na matéria de Literatura do curso de Biblioteconomia. A história é boa, é simples, tem bons personagens, é um recorte triste de uma realidade triste. Daria um grande conto em outras mãos. Então pra não perder todas aquelas três horas de leitura, eu fico imaginando como seria "A hora da estrela" contado, por exemplo, pela Lygia Fagundes Telles, com uma pitadinha de feminismo, terror ou fantasia. Terminaria Macabeia comendo a mordidas o Olímpico, toda lambuzada de sangue? Ou teria experiências libertadoras com a Glória e fundaria uma escola para datilógrafas?

Então vamos ver como seria se o povo mais antigo da literatura brasileira tivesse escrito. O Domingos Pellegrini faria a história sob o ponto de vista dos netos do patrão... "Como o vô conta a história de uma datilógrafa nordestina que trabalhou pra ele, chamada Macabéia". Jorge Amado, vocês já imaginam. Muita festa, alguma diversão, algum abuso, um bastardo. E a Macabéia provavelmente seria mais bonita e cheirosa. A Glória então... diva. E o Olímpico casaria com as duas, porque não? Mário Prata faria a Macabéia se vingar da Glória e do Olímpico em grande estilo, desfilando com um cara muito melhor que ele. Provavelmente o próprio Mário Prata. Ou um cafetão. Com certeza, o Mário Prata colocaria um cafetão salvando a Macabéia. Rubem Fonseca faria tudo um pouco mais sombrio, um detetive contando como estava investigando a cartomante e acabou topando com a Macabéia no final. O detetive iria transar com a cartomante, com a Glória também, talvez. O delegado Espinosa do Garcia Roza não treparia com nenhuma das moças, iria descobrir vários pequenos crimes cometidos pela Glória e pelo Olímpico, mas conseguiria prender, finalmente, a verdadeira grande vilã, a cartomante, por charlatanice e tráfico de influência, depois de quase levar um tiro do patrão. Luis Fernando Veríssimo faria um livro divertido, preferido de muita gente, e conseguiria tornar a Macabéia heroína nacional. Jô Soares misturaria James Bond na trama, que pegaria a Glória e a Macabéia, e o patrão seria um espião russo disfarçado, com ligações com a KGB. Ubaldo Ribeiro faria uma história quente, mas não tanto quanto a do Jorge Amado, com um pouco de magia, mas não tanto quanto Lygia e Scliar e com um pouco de humor, mas mais sutil que o Veríssimo Filho. Machadão criaria uma descrição tão marcante pra alguma parte do corpo da Macabéia que viraria cliché.

Drummond faria a gente sentir que somos todos Macabéias. Dalton Trevisan contaria tudo em duas páginas e somente com diálogos. Nelson Rodrigues, as namoradas do Olímpico, claro, seriam irmãs e ambas gostariam de apanhar, mas só dele. E o Moacyr Scliar? Seria um conto bonito, bem narrado, com detalhes nostálgicos da infância da Macabéia e com alguma coisa mágica e linda no final, que continuaria triste, talvez até mais. E Veríssimo pais? Esse nunca sequer imaginaria a existência de Macabéia, patrão, Glória, Olímpico e narrador, imagina só, personagens que vão do início ao fim de um livro sem aprender nada sobre o mundo, o universo, a vida e tudo mais? Inconcebível!

Então. Posso estar cometendo um crime, mas não, não gostei da forma como Clarice narrou, do pouco amor que ela demonstra por todos os personagens, que são todos sujos, feios, sebosos, pouco educados... me pareceu que ela tinha nojo de gente. Inclusive do narrador, gente, que cara mais pé no saco. Dele, só achei uma parte interessante no meio da egolalia. Como eu já sabia da história, ficou pra mim como a melhor parte do livro... uma piada:
Quando eu era menino li a história de um velho que estava com medo de atravessar um rio. E foi quando apareceu um homem jovem que também queria passar para a outra margem. O velho aproveitou e disse:
- Me leva também? Eu bem montado nos teus ombros?
O moço consentiu e passada a travessia avisou-lhe: - Já chegamos, agora pode descer.
Mas aí o velho respondeu muito sonso e sabido:
- Ah, essa não! É tão bom estar aqui montado como estou que nunca mais vou sair de você!
Pois a datilógrafa não quer sair dos meus ombros.
Lembraram também daquele filme de fantasmas coreano? Tenho quase certeza que é esse. Pelo menos do meu ombro, a dúvida saiu. Não gosto de Clarice. Ponto.

Três estrelinhas. Em cinco.

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Mais resenhas aqui.

Comentários

  1. Eu li este livro depois de ver o Cena Aberta dele, me apaixonei e fui ler. Gostei do que entendi, mas não entendi tudo e até passei a desconfiar deste amor todo que o povo tem por Clarice.

    Adorei o post, alguns desses autores bem que poderiam fazer um livro mais atrativo mesmo - e me deu uma baita saudade do "O Caso da Chácara Chão", do Pellegrini.

    Dois abraços ;)

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