Como poderia ter sido se não fosse como foi



- Eu mato esse bugre maldito! - berrou seu Floriano, pegando na espingarda. - Porco! Filha da puta! Ele não leva minha filha!
- Calma, homem, pelo amor de Deus! - dona Carmem, desesperada, segurava o marido. -Vai acabar acertando os dois e ainda mata nossa filha!

Seu Floriano se soltou da mulher e correu para os fundos da casa, de onde ainda podia ver os amantes em fuga, ao alcance de um tiro.

- Desgraçado!
- Não homem, não faça isso!

Na frente da casa, os homens da vizinhança apeavam. Quando o piá deu a notícia, na cancha de bocha, seu Floriano sumiu tão rápido que nem se ouviu o cavalo trotar. Uns para evitar tragédia, outros de curiosos, mas a maioria querendo “ver bugre levar fumo”, seguiram para a fazenda. E chegaram bem na hora da bala.

-- Bam!

Dona Carmem rezava de olhos fechados. Mas os gritos que ouviu não eram os que esperava... parecia... "o pato?" Mas coragem de olhar, só teve quando ouviu as risadas da homarada. Seu Floriano havia acertado o pato de estimação da família, que, não se sabe como, havia se intrometido na rota da bala. Foi pena branca pra todo lado. Ainda se via os amantes fugindo pelas colinas do potreiro, mas, agora, fora de alcance. "Obrigada, minha Nossa Senhora!", rezava baixinho.

O inesperado do caso e a risada dos vizinhos aturdiram e acalmaram o pai desonrado. A história do pato herói se espalhou rapidamente, e, em pouco tempo, não havia visitante que não desejasse conhecer a "Fazenda do Pato Branco". Foi nesse lugar onde, anos mais tarde, se ergueu nossa cidade. O pato? Foi pra panela. Mas seu Floriano nem provou:

-- Porco cane! Se não é esta praga deste pato eu acerto o bugre! Maldito!

Sharon Caleffi ouve rock, é mãe, escritora e feminista. Mais histórias em http://quitandinha.blogspot.com.br

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