Blog de quinta: Um blog petista e feminista - Mary W.

Imagine alguém que tira de dentro da sua cabeça suas palavras e as escreve de uma forma que você nunca conseguiria. E agora imagine que essa pessoa também age como você gostaria de agir. Vive e transforma como você gostaria de. E esse blog não é só isso, o que já seria suficiente pra você ler e adorar. Esses textos também abrem portas e janelas na sua cabeça. Inundam de novidade e de confusão cantos que pareciam pontos pacíficos, indiscutíveis, pétreos. Inclusive em relação à própria forma de escrever, ao tão falado, tão experimentado e tão pouco personalizado: estilo. Bom né?
Sim, muito bom! Ótimo!
Vai lá conversar com a Mary, mas só se for educado! |
Um dos meus preferidos é o da torcida pela Monique e pela Joana na Fazenda 2011. Quem venceu foi a Joana, descobri agora, pesquisando para o post. Mas o jogo não interessa muito. Interessa isso:
"Tem inúmeras camadas a participação dela. [da Monique Evans] A primeira, e super interessante, é aquela mesmo. De ver uma das mais belas mulheres do país envelhecer. Compartilhar desse envelhecimento. Mancar com o joelho dela. Ter empatia pelos lapsos de memória. Das ressignificações que o feminismo tanto discute. Ver minha mãe se identificar com ela. Se sentir, enfim, igual à Monique. Eu não sei o que minha mãe achava dela. Não me lembro. Mas há, né? Aquilo de dizer que símbolos sexuais são objetos e que se prestam a um papel que não deviam. É um discurso que a gente ouve sobre. E tem umas maravilhas no anacronismo. E agora minha mãe diz. Da vida dura da Monique. Nas passarelas, fodendo com o joelho. Eu estou falando mas não me lembro. Se minha mãe chegou a achar que a vida dela foi mansa."Outro post, sobre partidos e política e ser da turma e não tem como separar partes pequenas do texto dela, porque tudo é BÃO:
"Qualquer sociólogo de araque sabe que os partidos políticos estão esgotados. Que as manifestações tendem a vir, agora, de maneira difusa e caótica. A gente fica olhando pra primavera árabe e pra Londres. E pensando. Será que vai? Será que é isso? E aí tem as marchas no Brasil. Alguns dizem que as Marchas são restritas à classe média. Eu acho que são mais restritas ainda. É uma classe média que faz um uso específico da internet. Eu não consigo usar essas marchas como exemplo em sala de aula, por exemplo. E nem em reunião de família. Porque ninguém sabe do que eu tô falando. Então não são marchas de primavera. Mas apontam para um tipo de politização. Que, me parece, é um dos possíveis. Que é uma politização de fundo emocional mesmo. Tem gente que gosta de TODAS marchas. Que acha que quando as pessoas saem pra marchar, algo acontece. E que mesmo uma marcha oba-oba pode levar a questionamentos mais sérios e à percepção de que as coisas se resolvem com política. Tem aqueles que não gostam de NENHUMA marcha. Consideram que a festa substitui o debate e que os assuntos permanecem sempre na estaca zero."
E se vocês não tiveram vontade de ler nenhum desses, os melhores vem agora. Sobre as aulas. E os alunos:
"Ontem os alunos de jornalismo me apresentaram um trabalho. Basicamente eles tinham que escolher um projeto em tramitação na Câmara dos Vereadores e conversar com um vereador a favor do projeto. Um vereador contra o projeto. E analisar se o posicionamento tinha algum alinhamento partidário. Eles adoraram fazer isso. E coisas bem engraçadas aconteceram. Porque eu tenho alunos que moram em cidades muito pequenas e tal."
E sobre a educação de base:
"Já faz tempo que eu acredito que a falta de capital cultural é o grande complicador pra eles. É um complicador tão grande que eles não percebem que é um grande complicador. Eles acreditam piamente que a diferença entre nós é o tempo de escolaridade. E eu digo que não é e tal. E eles não conseguem perceber. Quando eu comecei a dar aula, uma das professoras do curso de Pedagogia me explicou que nossos alunos não tinham perspectiva histórica. Que eles não conseguiam pensar em mundo se transformando e tal. Ela me disse isso porque minha aula de Sociologia tinha ficado atolada na Revolução Industrial. Freeze mesmo. O que é esse negócio de feudalismo que você fala, professora? É latifúndio que você tá falando? E não adianta muito fazer pra eles aquilo que me fizeram no colegial. Tipo passar O Nome da Rosa. Porque eles ficam atrás de saber se tal monge era ou não biruta ou má pessoa.
E sobre o feminismo, as feministas, a Sandy e as putas:
"Eu tenho achado o discurso feminista nos blogs, twitter e internet em geral muito ruim. Acho caricato e beirando o clichê. Pode colocar qualquer propaganda ou filme numa espécie de feminismo generator. Porque a gente mais ou menos sabe o que vem. E aí volto praquilo do começo do post. Que as ciências sociais e humanas, hoje, conseguem perceber determinadas sutilezas e o movimento feminista não consegue. Então a gente tem o pensamento feminista como fundamental nisso aí de desconstruir as coisas. E o movimento datado, trabalhando com categorias que eu ADORO mas que já foram sofisticadas. Tipo alienação, ideologia, dominação etc."
----
* Post escrito para a tarefa 6 do Desafio 21 Dias do Blosque.
Mais blogs de quinta:
- Super Duper - Anne Rammi (nasceu o filhotinho dela dia 15 e se chama Tomás!)
saudades imensas da mary w.
ResponderExcluir:(