Blog de quinta: Um blog petista e feminista - Mary W.

Essa é a edição especial do "Blog de quinta". Um presente de Natal para a Mary W. *

Imagine alguém que tira de dentro da sua cabeça suas palavras e as escreve de uma forma que você nunca conseguiria. E agora imagine que essa pessoa também age como você gostaria de agir. Vive e transforma como você gostaria de. E esse blog não é só isso, o que já seria suficiente pra você ler e adorar. Esses textos também abrem portas e janelas na sua cabeça. Inundam de novidade e de confusão cantos que pareciam pontos pacíficos, indiscutíveis, pétreos. Inclusive em relação à própria forma de escrever, ao tão falado, tão experimentado e tão pouco personalizado: estilo. Bom né?

Sim, muito bom! Ótimo!

Vai lá conversar com a Mary, mas só se for educado!

Tive a honra de conhecer senhorita Mary W. no gReader. Sim, ainda ele. Nas conversas com Paulo Candido e Alex Castro ela sempre trazia um ponto de vista diferente. Sobre feminismo, sobre política, sobre partidos, sobre educação. Violência. Drogas. Classe Média. Infelizmente, todas as coisas que conversamos foram pro beleléu. Mas os textos dela ainda estão publicadinhos pra gente ler. E esse é um postão de leitura mesmo, com grandes parágrafos de citação pra mostrar um pouco como a May W pensa. E escreve.

Um dos meus preferidos é o da torcida pela Monique e pela Joana na Fazenda 2011. Quem venceu foi a Joana, descobri agora, pesquisando para o post. Mas o jogo não interessa muito. Interessa isso:
"Tem inúmeras camadas a participação dela. [da Monique Evans] A primeira, e super interessante, é aquela mesmo. De ver uma das mais belas mulheres do país envelhecer. Compartilhar desse envelhecimento. Mancar com o joelho dela. Ter empatia pelos lapsos de memória. Das ressignificações que o feminismo tanto discute. Ver minha mãe se identificar com ela. Se sentir, enfim, igual à Monique. Eu não sei o que minha mãe achava dela. Não me lembro. Mas há, né? Aquilo de dizer que símbolos sexuais são objetos e que se prestam a um papel que não deviam. É um discurso que a gente ouve sobre. E tem umas maravilhas no anacronismo. E agora minha mãe diz. Da vida dura da Monique. Nas passarelas, fodendo com o joelho. Eu estou falando mas não me lembro. Se minha mãe chegou a achar que a vida dela foi mansa."
Outro post, sobre partidos e política e ser da turma e não tem como separar partes pequenas do texto dela, porque tudo é BÃO:


"Qualquer sociólogo de araque sabe que os partidos políticos estão esgotados. Que as manifestações tendem a vir, agora, de maneira difusa e caótica. A gente fica olhando pra primavera árabe e pra Londres. E pensando. Será que vai? Será que é isso? E aí tem as marchas no Brasil. Alguns dizem que as Marchas são restritas à classe média. Eu acho que são mais restritas ainda. É uma classe média que faz um uso específico da internet. Eu não consigo usar essas marchas como exemplo em sala de aula, por exemplo. E nem em reunião de família. Porque ninguém sabe do que eu tô falando. Então não são marchas de primavera. Mas apontam para um tipo de politização. Que, me parece, é um dos possíveis. Que é uma politização de fundo emocional mesmo. Tem gente que gosta de TODAS marchas. Que acha que quando as pessoas saem pra marchar, algo acontece. E que mesmo uma marcha oba-oba pode levar a questionamentos mais sérios e à percepção de que as coisas se resolvem com política. Tem aqueles que não gostam de NENHUMA marcha. Consideram que a festa substitui o debate e que os assuntos permanecem sempre na estaca zero." 

E se vocês não tiveram vontade de ler nenhum desses, os melhores vem agora. Sobre as aulas. E os alunos:


"Ontem os alunos de jornalismo me apresentaram um trabalho. Basicamente eles tinham que escolher um projeto em tramitação na Câmara dos Vereadores e conversar com um vereador a favor do projeto. Um vereador contra o projeto. E analisar se o posicionamento tinha algum alinhamento partidário. Eles adoraram fazer isso. E coisas bem engraçadas aconteceram. Porque eu tenho alunos que moram em cidades muito pequenas e tal." 

 E sobre a educação de base:

"Já faz tempo que eu acredito que a falta de capital cultural é o grande complicador pra eles. É um complicador tão grande que eles não percebem que é um grande complicador. Eles acreditam piamente que a diferença entre nós é o tempo de escolaridade. E eu digo que não é e tal. E eles não conseguem perceber. Quando eu comecei a dar aula, uma das professoras do curso de Pedagogia me explicou que nossos alunos não tinham perspectiva histórica. Que eles não conseguiam pensar em mundo se transformando e tal. Ela me disse isso porque minha aula de Sociologia tinha ficado atolada na Revolução Industrial. Freeze mesmo. O que é esse negócio de feudalismo que você fala, professora? É latifúndio que você tá falando? E não adianta muito fazer pra eles aquilo que me fizeram no colegial. Tipo passar O Nome da Rosa. Porque eles ficam atrás de saber se tal monge era ou não biruta ou má pessoa. 

E sobre o feminismo, as feministas, a Sandy e as putas:

"Eu tenho achado o discurso feminista nos blogs, twitter e internet em geral muito ruim. Acho caricato e beirando o clichê. Pode colocar qualquer propaganda ou filme numa espécie de feminismo generator. Porque a gente mais ou menos sabe o que vem. E aí volto praquilo do começo do post. Que as ciências sociais e humanas, hoje, conseguem perceber determinadas sutilezas e o movimento feminista não consegue. Então a gente tem o pensamento feminista como fundamental nisso aí de desconstruir as coisas. E o movimento datado, trabalhando com categorias que eu ADORO mas que já foram sofisticadas. Tipo alienação, ideologia, dominação etc."

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* Post escrito para a tarefa 6 do Desafio 21 Dias do Blosque.

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Super Duper - Anne Rammi (nasceu o filhotinho dela dia 15 e se chama Tomás!)

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