A jogadora de go - Shan Sa
Primeiro livro de abril e sétimo do ano do Desafio Literário 2012. Minha edição é da Rocco, 2004, 203 páginas. Troquei no skoob e já troquei de novo!
O livro começa parecendo um romance de formação. A narradora, adolescente em 1937, vive na Manchúria, que se proclama "independente" da China, mas, na verdade, é um território controlado pelo Japão. Sua vida é escola, amigas, rapazes, a família e o go. Jogar, para ela, é uma alegria, uma fuga, um alívio dos problemas.
Mas um segundo narrador aparece rapidinho trazendo um pouco de romance histórico. É um oficial japonês enviado à China para auxiliar na invasão. Gostei bastante das passagens em que ele pensa (tão sério, tão solene, tão japonês!) sobre a vida de soldado e também sobre as relações entre eles e as prostitutas:
Mas conhecer uma certa jogadora de go traz um pouquinho de ironia para suas reflexões:
Enquanto jogam sua partida interminável, a história vai se tornando mais sombria e rápida, e eu paro de anotar páginas interessantes no marcador. A guerra enfurece, os exércitos combatem a cada dia com mais crueldade. Oposicionistas são perseguidos e torturados, os pobres morrem, se não pela violência, de fome e frio. Nossa heroína (ainda não sabemos seu nome) atravessa dilemas, tragédias e decepções. A fuga proporcionada pelo jogo querido já não é suficiente... e não há ajuda. Somos conduzidos pela angústia dela como cachorrinhos.
Li muito rápido, em duas horas e meia. O ritmo foi imposto por mim e não pela autora, que escreve de forma deliciosa, narrando as paisagens e personagens com metáforas chinesas muito bonitas. Mas eu simplesmente precisava saber. Não chegou a me decepcionar, mas... apesar de bonito e fazer sentido em um romance sonhador como esse, é incoerente, inverossímil. Destruiu aquela minha sensação de "realmente poderia ter acontecido". Pena.
Quatro estrelinhas. Em cinco.
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Mais Desafio Literário 2012:
- Unhas, Paulo Wainberg
- A mulher do viajante no tempo, Audrey Niffenegger
- Pinóquio, adaptação de Guilhaume Frolet
- Clara dos Anjos, Lima Barreto
- O rapto das cebolinhas, Maria Clara Machado
- Cozinheiros Demais, Rex Stout
Outras resenhas:
- Noite e Dia, Virginia Woolf;
- A melhor HQ de 1980;
- Água para elefantes, Sara Gruen;
- Buracos, Louis Sachar;
- Preconceito Linguístico, Marcos Bagno;
- Minha estante e sir Bernard Cornwell;
O livro começa parecendo um romance de formação. A narradora, adolescente em 1937, vive na Manchúria, que se proclama "independente" da China, mas, na verdade, é um território controlado pelo Japão. Sua vida é escola, amigas, rapazes, a família e o go. Jogar, para ela, é uma alegria, uma fuga, um alívio dos problemas.
Shan Sa |
"Não é possível reconciliar a pátria e a família. Um soldado é aquele que assassina a felicidade dos seus. Se a minha existência foi útil, a nação o deve à abnegação de uma mulher." p. 37
"Preparei-me para morrer. Por que me casar? Uma esposa de samurai se mata após o desaparecimento de seu esposo. Por que precipitar uma outra vida no abismo? Gosto muito das crianças, continuidade de uma raça, esperança de uma nação. Mas sou incapaz de fazê-las. Os pequenos têm necessidade de crescer sob a tutela de um pai, ao abrigo do luto.
As mulheres da vida têm um frescor furtivo, parecido ao orvalho da manhã. Desiludidas, são almas gêmeas dos militares. A insipidez de seus sentimentos tranquiliza nossos corações selvagens. Saídas da miséria, elas têm medo da felicidade. Condenadas, não ousam sonhar com a eternidade. Apegam-se a nós como náufragos aos pedaços de madeira flutuantes. Há em nosso abraços uma pureza religiosa." p. 53
todas as capas do mundo são mais bonitas que a brasileira? |
"Sentado num canto diante da sala vazia, um olho no vaivém dos garçons, faço o rascunho de uma carta par minha mãe.Seus caminhos se cruzaram na praça dos Mil Ventos, local onde os jogadores da cidade se encontram. Ele vai até lá disfarçado de pequinês e se encanta pelos modos livres da mulher chinesa, se comparados às japonesas que conhecia:
Enumero-lhe os objetos de que tenho necessidade: sabões, guardanapos, jornais, livros, bolos de feijão vermelho. Os anos passados na escola de cadetes fizeram de mim um homem. O distanciamento da pátria me transforma numa criança mimada. Exijo esta ou aquela marca de produto, detalho sua cor, seu perfume. Refaço vinte vezes minha lista, e a fúria da nostalgia acaba por se acalmar." p. 111
outra capa linda!
É divertida a narração da mesma cena pela jogadora, e mostra a segurança dela, um não-sei-quê assim de Liz Bennet:"Entre nós, quando as mulheres riem escondem o rosto atrás da manga de seu quimono. A chinesa sorri sem cerimônia nem artifício. Sua boa se abre como uma granada que explode.
Desvio os olhos." p. 98
"Anoto a posição dos peões numa folha de papel e gratifico o Desconhecido com um sorriso. Por já tê-lo testado no Primo Lu, em Min e em Jing, conheço minha arma.
De fato, ele abaixa a cabeça."
Lindona. |
Quatro estrelinhas. Em cinco.
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Mais Desafio Literário 2012:
- Unhas, Paulo Wainberg
- A mulher do viajante no tempo, Audrey Niffenegger
- Pinóquio, adaptação de Guilhaume Frolet
- Clara dos Anjos, Lima Barreto
- O rapto das cebolinhas, Maria Clara Machado
- Cozinheiros Demais, Rex Stout
Outras resenhas:
- Noite e Dia, Virginia Woolf;
- A melhor HQ de 1980;
- Água para elefantes, Sara Gruen;
- Buracos, Louis Sachar;
- Preconceito Linguístico, Marcos Bagno;
- Minha estante e sir Bernard Cornwell;
Pôxa, parece-me muito bom! Obrigada por compartilhar a dica de leitura conosco.
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