Dia 13 - Quem você quer ser quando...

A Tábata, do Happy Batatinha, convida os leitores todo ano pra uma série de postagens sobre literatura. Esse ano, cada dia do mês de outubro tem uma pergunta para inspirar um post. No dia 13, um desejo: quem você seria?

Dia 13 – Se você pudesse trocar de lugar com o personagem de um livro, qual seria?

Me acha foda?
EU é que queria trocar
minha vida pela sua!
A vida é muito difícil pras personagens realistas. Não ter homem ou não ter filhos equivale a uma vida de sofrimentos e descaminhos e inimigos e machucados e estupros. Mas nem as casadas com cria se safam muito bem. As crianças morrem, os maridos traem, vão pra guerra, ficam loucos, broxam, bebem, batem, matam. Tá difícil. Até a Erika Berger, da Trilogia Millenium, com amante e marido e o emprego mais desejado do mundo - editora de revista fodona de reportagens investigativas de verdade - tem a casa invadida e é quase morta por um maluco. Outra vida potencialmente invejável da série é a da agente do setor de Proteção Constitucional Monica Figuerola. Linda, bem resolvida, forte, sensual e defendendo os fracos e oprimidos pelo sistema. Mas não parece "mulher maravilha" demais? Ou eu é que não consigo aceitar que exista uma mulher perfeita? Sei lá, eu até topava ser a Erika, mesmo como doido varrido querendo matá-la, mas a agente Figuerola me dá um tanto de medo. Lisbeth Salander, mesmo com toda a inteligência e enorme força, eu passo, completamente, não daria conta do passado dela e ia virar uma conchinha sussurrante num quarto acolchoado. Essa vida de mulher adulta é muito complexa pra minha cabeça.

Trilogia Millenium, Stieg Larsson
(skoob - notão! 4,6 em 5!, sebos, livra)


Entre os romances de formação brasileiros sobre garotas tem alguns muito legais, onde as meninas descobrem o mundo, a amizade, a adultice. E não terminam se casando, pelo contrário. Terminam buscando começar uma vida profissional, independente, sem amarras, acompanhadas de amigos. Clarissa do Veríssimo pai é um livro legal, mas a menina é pura demais, limpa demais, boa demais. Prefiro "Crônica de uma namorada" da Zélia Gattai e "Ciranda de Pedra" da Lygia Fagundes Telles. Também viram a novela? Gostei, tirando o fato de demonizarem o dr. Natércio (ele não é tão ruim no livro, só frio e distante) e colocarem o Daniel Dantas como vilão. Adoro o cara, mas ele parece feito pra comédia, eu acho, mas enfim. A novela não é tão boa quanto o livro, claro. E eu não queria ser a Virgínia não... uma história muito sofrida, a mãe doente, o pai distante, as irmãs que não a entendiam. Uma complicação total. Infância tem que ser feliz. Mas nem sempre é, então... ponto pra Lygia. E por falar nela, uma entrevista e homenagem deliciosa no Itaú Cultural.

Ciranda de Pedra, Lygia Fagundes Telles


Já a história da Crônica é bem parecida com a minha própria adolescência, descoberta do corpo, etc, família feliz, vida tranquila, nada de muito complicado. Então eu já fui a Geana, praticamente sem tirar nem por. No final do livro ela vai assistir a um show de banda dos amigos e se diverte horrores, curtindo a música ao invés de um carinha qualquer. É MPB. "Tu és divina e graciosa, estátua majestosa..." Mas exemplifica muitos dias da minha juventude.

Crônica de uma namorada, Zélia Gattai

Então, esses livros todos são ótimos, divertidos, mas o realismo da coisa acaba deixando as vidas das personagens ou muito difíceis ou muito parecidas com a minha. Eu não gostaria dessas vidas. Por isso decidi por uma personagem de fantasia, uma vida assim, mais "mágica". Já citei   "A Dama do Falcão" no dia 4, dos lugares para ler. A série Darkover, praticamente inteira, é protagonizada por mulheres fortes, independentes, decididas, profissionais, enfim, mulheres de verdade. Tem bastante sofrimento também, na maioria dos livros. A que menos sofre e mais se diverte é a dama do falcão, Romily, que tem empatia com animais e tudo mais. Eu gostaria de viver a vida dela. 

Sou linda, gentil, inteligente
mas tenho que casar
com quem papai mandar
Outra personagem de vida boa e mágica é a Ceinwyn, princesa de Powys, das Crônicas de Artur do Cornwell. Mas a felicidade dela está atrelada ao casamento, que acaba dando a ela liberdade e etc e etc. Então não. A mesma coisa com a Elizabeth Benet de Orgulho e Preconceito, que né, casa com Mr. Darcy. Apesar de eu também querer casar com ele, passar anos em uma mansão enorme com museu, sala de música e biblioteca deve ser entediante... ou será que não? Duvido muito-to! Dane-se a independência, a vida sexual da moça deve ser maravilhosa e o dinheiro jorrando não faz mal nenhum. Sim, sim, sim, eu gostaria deveras de ser Elizabeth Bennet, como praticamente todas as meninas que responderam essa pergunta. Mesmo aquelas que colocaram a Hermione. Não tem como preferir Ronald Weasley a Mr. Darcy. Ninguém me convence. Então é isso, sim, eu queria fugir de todas as aventuras e desventuras pra casar com um cara lindo, rico, bondoso, inteligente, que me ama muito e ajuda as pessoas. Um homem que não existe, uma vida que não existe. A busca da fuga. 


Orgulho e Preconceito, Jane Austen

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