Duna e Talia, parte 5: Intriga internacional?


"Duna e Talia" é uma historia inventada a muitas "mãos". Ela aconteceu em umas três ou quatro sessões de RPG em 2002 ou 2003. Eu era a Talia, uma atriz e dançarina famosa, bonita e esperta. Duna e Sagan foram "nascidos e vividos" por dois amigos meus, o Tiago e o Jorge. O mundo, "Fasantia", e a estrutura do enredo foram criados pelo nosso narrador, o Eduardo.

DUNA E TALIA

Parte 5 - Intriga internacional?

(criada por Eduardo, Sharon, Tiago e Jorge)

Na primeira parte da história, Talia ajuda dois rapazes a encontrarem um trabalho de resgate de mercadorias roubadas e resolve tentar a empreitada também. Leia aqui.

Na segunda parte, ela consegue se unir ao grupo, que talvez tenha 
encontrado os bandidos, em uma aldeia de pescadores. Leia aqui.

Na terceira parte Duna, Talia e Sagan recuperam os ricos panos
e começam a viagem de regresso. Leia aqui.

Na quarta parte, slurps, monstros sugadores de entranhas,
atacam o grupo. Leia aqui.



O cavalo de Duna não consegue correr tanto quanto o de Talia, mas está apavorado e não fica muito atrás. Logo eles encontram Sagan, ainda tremendo, mas falando:

- Vocês conseguiram! Me desculpem! Eu não sei o que deu em mim! Eu.. eu...
- Sim, sim... vamos esquecer isso agora - diz Talia - você está machucado também, esquece... os bichos já ficaram pra trás. Duna! Deixa eu ver esse cara aí! - Talia desce do cavalo e avalia o líder com atenção. - Nossa, como é forte! Ainda não morreu, mesmo com essa cavalgada! Deixe-me colocar essa carga no cavalo do Sagan, Duna, aí você pode montar melhor.
- Talia, olhando agora... - Duna parece intrigado - Essa capa, essa cota de malha que o homem usa. Não são de cavaleiro galandriano?
- Quê? Um cavaleiro galandriano roubando tecidos? Espantando pescadores de vila? Não pode ser... mas a capa é mesmo de Galandria... olhe o brasão. E o cara é forte pra caramba, incrível como ainda resiste... não me admiraria se ele tivesse treinamento militar não... mas roubar tecidos? E por um saco de fortunas?
- Eu sempre ouvi falar da disciplina e honra da ordem, - completa Sagan - muito estranho mesmo...
- Acho que o melhor a fazer é entregá-lo à embaixada, não ao Tremelassé - diz Talia. - Ou pelo menos investigar por lá quem é esse cara. O embaixador frequenta a taverna... vamos falar com ele?
- Senhorita, me desculpe, mas se tem dedo de Galandria nesse ataque a última pessoa com quem temos que falar é com o embaixador de lá, não acha? - Duna retruca. - Vamos continuar com o plano e levar os panos e o líder para a Agulha e Linha.
- Ah, mas eu não acredito que um homem tão educado e elegante quanto o embaixador Beraldo iria se meter em sujeiras... ele é tão gentil e inteligente! Tão honrado, de boa família!
- Senhorita... essa conversa me espanta... não importa se esse embaixador Burraldo seja a fina nata da sociedade...  vamos levá-lo para a Agulha e Linha e deixar que o Tremelassé resolva esse negócio.
- E se tirássemos as roupas dele? - sugere Sagan - Então teremos uma prova para o embaixador e pegamos a recompensa pelo líder!
- Sagan! Você é uma surpresa constante! Como pode ser tão inconstante essa sua inteligência, rapaz? É isso mesmo, vamos ter as duas coisas! Podemos chantagear o embaixador, que desconfio estar metido nisso, sem deixar nosso empregador infeliz!
- Então vamos à embaixada, falar com o embaixador Beraldo? - Talia parece contente com a possibilidade - eu quero estar lá! Quero falar com ele!
- Melhor mesmo, assim a senhorita pode ver quem é o Burraldo de verdade...
- Você é que vai ver quem ele é, senhor Duna, o Desconfiado! Deve haver uma boa explicação para tudo isso! O embaixador Beraldo jamais se meteria em intrigas fúteis como essa! Você vai ver!

Então Talia fica quieta, pensando no embaixador. "Tão bonito! Mas claro que não vou falar da beleza dele pra esse bruto do Duna, ele vai rir de mim." Ela olha para suas roupas e sente o próprio cheiro. "Pareço uma aventureira maluca. E com esse cheiro de suor e cavalo... melhor não aparecer na frente de Beraldo assim... o que ele vai pensar? Além do mais, ele nunca vai se interessar por uma caçadora de recompensas, quando se relaciona com moças de família o tempo todo..."

- Pensando melhor, acho que não vou com vocês à embaixada não... amanhã é dia de apresentação e vou precisar ensaiar o dia todo. Depois vocês me contam o que aconteceu.
- Está bem, a senhorita é quem sabe. Melhor mesmo não interferir na nossa conversa, defendendo o crápula.
- Você nem o conhece, Duna, ele é um bom homem, estou dizendo.
- Seja quem for! Chega desse assunto! Ainda temos uma hora de caminhada e não quero falar de Burraldo nenhum! - completa Duna. E, apaziguador, muda de assunto: - A senhorita também é uma surpresa, assim como nosso amigo Machado Maldito aqui! Sabe lidar com ferimentos, mas é muito melhor com as facas! Quantas esconde nesse vestido?
- Trouxe oito comigo... já estava ficando sem, na verdade... não dá pra trazer mais sem incomodar.
- E onde aprendeu a usá-las assim?
- Ah... é uma história longa...
- Temos um longo caminho pela frente!
- Aprendi com meus pais, viajávamos com um espetáculo, eles atiravam facas e coisas assim... - Talia se cala, como se houvesse só isso para contar.
- Sim! Interessante! E eles, continuam viajando, agora? Será que não os conheci nessas estradas? Passei por muitos artistas, atiradores de facas inclusive!
- Não, Duna, não... eles já morreram...
- Oh, sinto muito, senhorita, não queria trazer lembranças tristes para você...
- Tudo bem. Faz tempo. Eu nem era mais tão menina assim, já sabia manusear bem as facas mas não gosto de falar sobre isso não.
- Está bem, moça, não vou mais insistir... me desculpe, novamente.
- Tudo bem, não tem problema... Talia se calou. Sagan começou a narrar de várias formas diferentes o ataque, empolgado e Duna dava dicas e ensinava táticas e estratégias para o rapaz. Foi um final de jornada divertido para os três, Talia logo se envolveu na conversa. Encontraram o senhor Tremelassé na guilda, aguardando.

- Finalmente! Que demora!!! Será descontado do pagamento!
- Ei, ei, senhor Tremelico! Não comece - Duna gritou zangado com o contratante. - Não foi tão fácil e o senhor conhece a distância! Já sabia que chegaríamos nesse horário!
- Não importa! Meus panos... onde está a carroça?
- Nessa hora deve estar sendo vigiada por um bando de slurps, acredito eu. Ela está na estrada, onde deixamos quando os bichos nos atacaram. O senhor mande buscar amanhã.
- Meus tecidos! Meus ricos tecidos! Cheios de sangue e gosma... ah, não...
- Calma, senhor Tremelassé! - diz Talia - Separamos os melhores, estão aqui, sem arranhões, poeira ou gosma de slurp. - Sagan entrega os panos e ela continua. - Também trouxemos o líder dos bandidos para o senhor, e estamos devolvendo três cavalos... infelizmente, um deles fugiu durante o ataque.

Tremelassé investiga os panos, que eram realmente lindos. Sedas coloridas,  linho entremeado com fios de ouro e prata, algodão de trama fina enfeitado com desenhos incríveis, rendas intrincadas. Um deles agradou especialmente Talia, bordado com rosas vermelhas e folhas de ouro.

- Esse pano é mesmo magnífico, senhor Tremelassé... quanto custa?
- A senhorita tem mesmo bom gosto... e ficaria magnífica dançando com ele! Podemos negociar com uma daquelas garrafas de vinho especiais, hein? Pode levar! Vou gostar de vê-la nele! Mas me deixe embalá-lo que a senhorita está imunda! Minha nossa, uma senhorita tão bonita em estado tão lamentável! Que tempos são esses! Pelos deuses!

Talia leva seu pano para a taverna, feliz. Duna a acompanha, vai dormir num dos quartos da hospedaria. Sagan se despede:

- Bom, vou para casa!
- É muito longe, Sagan?
- Mais uma hora...
- Melhor você não caminhar isso tudo com esse ombro machucado. Fique na taverna. Eu desconto a minha parte, mas o meu sócio é duro nos negócios... a parte dele vocês vão ter que pagar. Infelizmente, é a maior parte...
- Sem problemas, senhorita, nós temos as fortunas, hein?
- É, tinha até me esquecido! Vamos dividi-las na taverna! Em três partes iguais, não é? - Sagan respondeu:
- Eu não servi de nada contra os slurps... poderíamos ter ficado com a carroça se eu não fosse tão desajeitado. Vocês podem ficar com uma parte maior.
- Rapaz, não sei o que acontece com você, é desconcertante. Num momento, é o herói, o Machado Maldito, atacando homens como se fossem galinhas. Depois, congela ao ver um animal perfeitamente combatível! Pois a senhorita Talia não matou meia dúzia deles? Mas não seríamos justos se ficássemos com a maior parte... você pegou dois homens sem lhes dar chance de defesa! Foi incrível! - o rapaz sorriu novamente, mas ainda estava contrariado com a própria covardia.
- Da próxima vez, eu ataco essas coisas, eu juro!

Na taverna, comeram uma refeição rápida e foram para seus alojamentos. Talia tomou um banho demorado e quando finalmente foi deitar, já era madrugada alta. Acostumada a dormir tarde, aproveitou os últimos momentos de silêncio para pensar sobre o dia.

- Há quanto tempo eu não me divertia assim! Tenho que sair mais com esses dois! Pois quem diria que esse menino seria tão ágil? Tão bom na batalha? E o tal do Duna, todo educado e decidido, vindo pedir a minha opinião... que inédito! Mas essa história do cavaleiro galandriano... o que o Beraldo vai dizer? Eu queria ser uma pulguinha... mas não posso ir até lá e me apresentar como aventureira sob contrato, imagina só! Melhor que ele lembre de mim dançando, mas não apenas uma ótima dançarina de taverna, também uma comerciante independente! Ah, o Beraldo, tão bonito, aqueles olhos verdes... o sorriso...

Fechou os olhos pensando no embaixador. Mas quando finalmente dormiu, os olhos verdes não estavam em seu sonho... Talia matava dúzias e dúzias de slurps e outras feras, leões, lobos, com suas facas certeiras, enquanto Sagan se encolhia apavorado e Duna aplaudia, orgulhoso. Era um sonho divertido. Dormiu muto bem.

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Fim da parte 5. A próxima já está disponível! O viajante e o embaixador.

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