Sonhei que a neve fervia, Fal Azevedo

Comprei na estante virtual, que o sebo estava dando descontos incríveis e tudo mais. A edição é da Rocco, 2012, 383 páginas.

"Conheço" a Fal desde que entrei na internet, praticamente. Comecei a ler o blog dela em 2003, quando ela colava tirinhas do Dahmer e comentava a novela "Mulheres apaixonadas" e eu não perdia um capítulo (do blog, não da novela), porque era tipo assim, de mijar de rir, vejam lá.

Então que ano passado eu conheci a Fal, a própria, no Buzz e trocamos umas palavrinhas. Uma pessoa doce, simpática e acolhedora, como Maliu (a mãe dela) bem ensinou.

Daí que eu quis ler correndo o livro quando saiu, mas eu tinha me prometido não comprar mais nada pra mim esse ano, não é? Bah! Larguei mão e comprei. Muitos livrinhos novos... acho que foi uma crise de abstinência misturada com o pânico de ver tanto livro indo pras estantes do Leitura sem Fronteiras. Pronto. Comprei quase tantos quantos foram. Ufa. E o "Sonhei..." tá indo também.



Sobre o livro, então. É uma reunião de memórias e pensamentos, alternados com e-mails que a Fal trocou com amigos, posts do blog e cartas que ela recebeu. Tudo para contar como foi o ano posterior à perda do Alexandre, seu marido e maior fã, apoiador, companheiro, o maior tudo que alguém poderia ter. Ele morreu subitamente, de parada cardíaca, no apartamento onde eles moravam, nos braços da Fal, que também era a grande tudo para ele.

Você começa a ler e já mergulha na tristeza mais absoluta, completa, irrestrita que alguém pode sentir. Eu me debulhei em lágrimas duas noites seguidas, não conseguia parar de chorar nem de ler. Dava uma respirada, ia falar com o meu marido (inteiro ali, são e salvo), olhava o Tomás e voltava pra tristeza da Fal e dos amigos do Alexandre. Ler a Fal me ensinou que não tem nada, nada, nada que você possa fazer para amenizar essa tristeza. Você pode estar lá, deixar a pessoa mais confortável, mais segura, segurar sua mão e dormir ao lado dela, para amenizar um pouco a solidão... mas a tristeza não vai embora. O amor não vai embora. Não passa. Isso não passa.

O "Drops da Fal" hoje.

E depois de duas noites chorando decidi não ler mais à noite. Deixei pra ler durante o dia, de preferência com o Tomás pulando e me atrapalhando a catarse. Mas nem foi tão necessária essa precaução (acredito) porque de algumas páginas em diante as coisas começam a ficar mais leves. No livro, não na alma da Fal. Ela começa a contar como é um tanto atrapalhada com o "mundo real" e seu dia a dia como tradutora dona de gatos filha de artista vizinha e amiga de gente maravilhosa. A gente começa a sorrir mais um pouquinho e até damos algumas risadas.

A Fal é daquelas pessoas que todos se lembram com carinho (apesar dela falar de um ou outro maluco que foi grosseiro com ela - doidos! - devem ter sido assim por descuido e não por desamor) e com carinho merecido. Ó um pedacinho ótimo do livro que também está no Drops:
"Um dia, o homem que eu amava – e que, miraculosamente, me amava também – escreveu a letra de Blue Moon e me deu. O homem que me amava tinha a letra linda, linda, caligrafia treinada com os padres. O homem que me amava cantava essa música no meu ouvido quando estávamos na cama e eu chorava. Guardo o papel na minha carteira e nunca mais tive coragem de desdobrar e ler. Quando troco de carteira (faço isso com certa frequencia) troco de lugar o papel com a caligrafia do homem que me amava, mas não abro, não leio. E tem mais. Tem muito mais."

 Né? Bora ler os brasileiros, minha gente!!!

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Mais Fal em:

- Entrevista para o Amálgama
- No Sem Censura com a Leda Nagle

Mais brasileiros escrevendo agora:


 Trechos de "A um passo", Rosa Amanda Strausz
- "O céu dos suicidas" e "O livro dos mandarins", Ricardo Lísias
Unhas, Paulo Wainberg
- Hotel Atlântico, João Gilberto Noll

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